quarta-feira, julho 15, 2009

Burn After to Read

Enlevado por um dobrado marcial, que fez os olhos pasmos da expectação mórbida se abrirem ainda mais, Ezra, que por um acordo tácito, exitava em pisar ou não na cabeça do adestrador, quando pára de súbito, e o público, na cabeça do tempo da batida final da caixa de guerra deixa ecoar na platéia estatelada um sussurro de espanto e horror.
Ezra, por gravidade, rompe a fronteira tênue da indecisão e deixa o espetáculo por conta da platéia incrédula, que por algum momento chegou a duvidar de que não o fizesse.
Neste momento Ezra não se apavora e caminha com a mesma lentidão de sempre pelo picadeiro, lembra-se docemente do tratador, como é sabido da memória dos elefantes, mas não da maneira tão sentida de todos os erros cometidos dentro da jaula. Nunca gostou de folhas verdes, da negligência com que adestrador tratava as mulheres e da maneira com que os macacos tocavam tambor; sentia a cabeça em maresia, o coração apertado e as patas frias, com os motociclistas, no globo da morte.
Os palhaços, como em todo espetáculo, fizeram uma bolsa de aplausos, como especuladores do êxito de cada ato. Compravam da platéia pequenas surpresas para vender ovações, delírios e risadas copiosas. Porém o mercado lúdico, que até então apresentava uma liquidez de descontração, entrou em baixa com a pisada do elefante e todos os palhaços faliram. Corretores do riso constataram que com este lote de ação a tristeza pode ser convulsiva ao portador, foram à bancarrota com uma risada paralisada em suas faces e um pânico sob a lona.
Ezra, besta fera, foi o que quis inventando seu lugar, de dentro da jaula em que via encabulado riscando o céu todas as noites o homem voador, as crises de abstinência do atirador de facas, a dança emulada da mulher barbada que ateou fogo as vestes, da crença pia do acrobata em um deus que fechava os olhos para seu salto mortal, já que pela anti-gravidade todo deus é mortal em um trapézio, da dor mambembe que o acompanhava e que tantas vezes o fez tentar contra a existência do domador.

2 comentários:

Anônimo disse...

Há tempos ouço falar da maneira que vc escreve,devo reconhecer que a estrutura sintática e os tempos verbais são sobremaneira rebuscados, todo texto em si exige um certo domínio do vocabulário nacional para que cada parágrafo seja perfeitamente compreendido,isto o torna indiscutivelmente um excelente escritor...Bravo,Bravo,bravíssimo.
Um abraço, Ismael Luz de vela.

Alê Marques disse...

Who are you guy??