segunda-feira, agosto 10, 2009

Identidade – Identidades?

A questão identidade, ou seja, o que esta venha a ser é alvo constante de inúmeras flechadas, lançadas por uma infinidade de cientistas sociais, que lançam mão de seus recursos metodológicos, para assim equacionar uma questão que está sempre presente nos debates acerca das sociedades, o que faz desse tema motivo constante de polêmicas e embates acalorados.
Nos últimos anos vetou-se a possibilidade de se considerar a ideia de falta desta, sendo adotada como posicionamento a concepção de que a questão não deve se prender a discussão da falta de identidade, mas sim, de que identidade se pretende falar. Desse olhar nasce uma discussão importante sobre a concepção “vigente”, que se baseia na ideia de identidade fluida, líquida, ou qualquer coisa nesse sentido.
Essas caracterizações observam o teor identitário, envolto no processo de velocidade, dinâmico, considerando-a em razão da rapidez dos fenômenos, flexível, acoplável a qualquer componente pré-existente, não importando muito ou nem um pouco, formatos, moldes, gabaritos ou coisas do gênero. Pensando essas correntes de pensamento e seu posicionamento adotado, se faz necessário observar o que há realmente de verdade nisso tudo? Analisando os grupos, os Estados Nações, os sem Nações, pode-se dizer que, de verdade absoluta tem-se muito pouco. Nessas concepções o que fala mais alto e defini caminhos é ou está intrinsecamente ligado ao processo econômico, como se a humanidade fosse pura e simplesmente títere da análise e realidade econômico-financeira, não importando elementos que dão força e vida ao espaço, que compõem o corpo da sociedade. E o mais interessante nisso tudo está na consideração, talvez inconsciente, de que os elementos espaciais em seu relacionamento atuem uns de maneira passiva, que simplesmente acatam de maneira indiscriminada as ações do outro no espaço e os outros que agem como se tudo fosse permitido e tudo fosse se sedimentando no tecido social, sem importância, efeito ou reação alguma, o que acaba por tornar todas essas considerações acerca da identidade algo bizarro.
Essa pequena explanação não tem como objetivo discutir, o que venha a ser identidade, se esta é baseada na fixidez, na relação para si dos elementos, nem muito menos se esta é fluida, líquida ou gasosa, mas sim tentar colocar em questão a dúvida, e potencializar os benefícios desta no debate, no campo das ciências humanas - sociais, acerca da concepção de identidade.


amar,desamar,desaguar?
manter,esfacelar?
pensar, não pensar?
existir, não existir?
ter ou não ter? querer e não querer?
que tipo de existência.

Written by Anselmo

4 comentários:

Frei disse...

Grande Anselmo, palavras esclarescedoras e conhecimento amplo do que fala me faz pensar 2 vezes antes de entrar em um debate contigo....mas eu entro!

Frei

Alê Marques disse...

Há tempos procura-se o fechamento do conceito que abarcasse a identidade do homem tardo-moderno (ou se preferindo pos-moderno), mas deva haver algum conceito que abarque a totalidade da identidade?
Desde o contorno político ilustrado dado a identidade, que bem se sabe não obedece fronteiras e mapas políticos e nem as delimitações do Estado-Nação, que desde sua criação não levou-se realmente em conta as especificidades da identidade local, sendo este muito mais um projeto burguês. O que contraditoriamente hoje apresentam-se grupos com pretensão ao estatus nacional que guardam profundas tensões com os estados que os circunscreve no espaço político tais como:minorias étnicas do leste europeu, da Espanha, França, que transferem integralmente a carga nacional de sua organização para espaços dentro do mapa político desenhado pelo Estado. Vide Chiapas no México.
A nossa modernidade tardia (pos-modernidade) nada mais é que a crise dos arquétipos da modernidade, e o conceito de Estado-Nação é uma criação da modernidade, e estando este também em crise, mas não só por uma crise provocada pelo capital global através do receituário neoliberal do Estado mínimo, mas sobre tudo, por sublevações de minorias identitáiras de dentro do próprio Estado. Os elementos espaciais podem atuar de maneira passiva ou não, e nesses casos a identidade “não acata de maneira tão indiscriminada as ações do outro no espaço”.
A posmodernidade preconiza o fim das grandes narrativas, talvez por isso a condição fluida da identidade, o homem tardo moderno busca na realidade novas formas de representação de sua identidade, já que sua acepção moderna está em crise, a razão que por hora a legitimou também não vai bem das pernas, já que própria razão que serviu de base para o Estado-Nação, destruiu nações inteiras comentendo genocídio de vidas e identidades, criando estados para nações que se sucumbiram a guerra e que agora fazem outras nações a sucumbirem a seu Estado, vide o caso israelo-palestino.
Definitivamente não podemos aspirar a nenhuma representação unificada da identidade

Marcio disse...

Pois é! e eu acho que tem mais um complicador ainda, que torna a questão ainda mais etérea, que a identidade parece que se constói em muitos e diferentes estratos não? desde o âmago recôndito e profundo do ser individual, lá nas suas memórias ancestrais, ou mais fundo ainda... e vão se somanda camadas identitárias, das mais individuais às mais coletivas, identidades que compartilha com seu companehiro íntimo ou com alguém do outro lado do planisfério. essa "pirâmide" invertida de estratos de identidades oscila instável, entre a permeabilidade e a auto preservação, mantendo heranças e absorvendo novidades. como lhe desenhar um contorno definido?

Cardápio Delicadeza disse...

Anselmo, quanta categoria, que coisa mais bela de se ler.

A cada dia admiro ainda mais essa tua evolução, tanto na escrita quanto no comportamento.

Obrigado por permitir esse abrir de janelas...

Abração!! sou teu fã!