quarta-feira, dezembro 02, 2009

PEDRINHA, a Saga. parte 2 de 3


A escola foi a verdadeira mãe que Pedrinha não teve, onde ele ainda atendia pelo nome de batismo: Woshiton. Uma instituição onde tudo o que fizesse seria perdoado, sem punições, apenas orientações (pedagógicas ou não), além de merenda e cafezinho na sala da diretora – seu local predileto no prédio escolar.
Entre seus feitos estudantis mais notáveis estão: sua primeira ocorrência que foi escrever com um prego a frase “filha-da-puta” no carro da professora primária – e ele nunca foi pego por isso; arrombar a sala do dentista e roubar três alicates, uma micro serra e dois bisturis – nesse caso ele foi pego, mas como era menor e a escola construtivista ele foi perdoado ; quebrar três dentes do coleguinha Romário na educação física numa cotovelada maldosa, sem bola – a professora fez de conta que não viu e nem falta foi marcada – e nesse segue o jogo foi que Pedrinha ainda na quarta série, quando tinha recém completos dez anos, conheceu sua melhor amiginha primária, a Maria Juana, filha de imigrantes latinos que tinha por costume burlar as aulas pra “ficar de boa”, sem fazer nada mesmo. Então todo o dia antes da aula Pedrinha passava lá na casa dela pra chamá-la pra ir ao colégio.
Woshiton se apaixonou por Maria Juana e manteve com ela um relacionamento duradouro. Ela o acompanhou até o fim de sua vida. Ora sanando problemas de ansiedade precoce, ora sendo sua única fonte de alegria diante de um mundo sem muitas oportunidades reais de felicidade. Ela, sempre que podia, lhe dava uma força.
Num plano de tentar salvar Woshiton, um professor de educação física do colégio, ligado a projetos sociais de reabilitação de menores, foi obrigado pelo Projeto Político Pedagógico a dar uma chance ao menino e o inscreveu no time de futsal da escola, afinal, apesar de ser um menor delinquente para a escola, o papel do professor era ressaltar as habilidades que o menino tinha, seguindo piamente a cartilha construtivista de ressaltar as inteligências múltiplas, dando vazão ao lado não tradicional da educação do menino. O desenvolvimento do menino, segundo essa teoria, dependia de práticas educacionais não convencionais e talvez, inseri-lo no time de futsal da escola, mesmo que a contra gosto do professor, poderia ser a salvação da lavoura para Woshiton.
Acontece que Maria Juana, que nessa época não largava do pé de Woshiton o estava deixava muito cansado, sem ânimo e às vezes lesado mesmo. O professor o advertia nos treinos e Woshiton, que gostava de participar desse tipo de aula, pensou que precisava arranjar um jeito de render mais nos treinos, e foi nessa busca que ele conheceu a cocaína, excelente para a prática esportiva, mas como era um artigo muito caro e o fez ser pego no exame anti doping dos jogos inter-classe ele teve que optar por uma alternativa mais barata. E foi assim, que atrelado ao desenvolvimento esportivo Woshiton tomou uma atitude: se ligou numa droga que o levaria bem perto do sucesso futebolístico. E ele, querendo ser craque começou a fumar a pedra. Foi assim que começou a ser chamado de Pedrinha, o craque.
Seis meses depois, ao completar treze anos Pedrinha não ia mais a escola e fazia fitas pra se manter malaco na sociedade e não levava mais o sobrenome, o craque, que o acompanhou em sua catastrófica e curta carreira dentro das quatro linhas. Passou a ser apenas o Pedrinha mesmo. E assim, sem motivação. Sem time pra se firmar, sem escola pra fequentar Pedrinha conheceu seu terceiro e maior vício: o FLIPERAMA.

Continua...

10 comentários:

el Samu disse...

Nem antônio conselheiro, nem pixote, nem operário, nem soluço...

não percam o próximo e último capítulo amanhã...

Alê Marques disse...

Se lembra quando o resto da turma se juntava pra jogar bola? Eu fuma unzinho com o Zezinho no fundo quintal da escola!!

Anônimo disse...

A evolução da primeira parte para a segunda é notável.

Achei a introdução meio truncada, querendo explicar tudo nos minimos detalhes. Na segunda gostei mais do ritmo. Mais corrido e simples; caracteristico do contexto em que se desenrola a estória.

Achei apenas que a linha temporal poderia ser melhor descrita. Num momento há um grande salto, que empurra o leitor a achar que essa é a pegada, mas logo em seguida, assim, de supetão, o ritmo dá uma cadenciada.

Mas nada disso tira o brilho da estória.

S. Maia

**Certa vez, numa entrevista, ouvi de um escritor - que não lembro o nome - que o papel de quem conta estória é igual ao de uma lavadeira. Precisa torcer, torcer, torcer... e deixa-la sempre enxuta.

Anônimo disse...

Santo google! Na febre de lembrar quem era o autor da citação acima, googlei: escritor lavadeira torcer. Pronto! No topo da página havia o texto completo. Deixo com vocês:

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.

Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.

Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

Graciliano Ramos

Abraço.

S. Maia

Anônimo disse...

Pelo que vejo "O" SM ocupa a cadeira nº 41 da Academia Brasileira de Letras.

Mas porque será que ainda está batalhando por uma vaga num jornalzinho de supermercado, como editora chefe?

Sra Holler

Anônimo disse...

Sra Furadeira,

Infelizmente não ocupo vaga alguma em jornal de supermercado. Faria isso com imenso prazer se pudesse.

S. Maia

PIK disse...

S. Maia,

Graciliano é maravilhoso. Angustia é uma das melhores obras que já li.

Anônimo disse...

acho que a sr. holler, que não seria a furadeira e sim a Furadoura merece mais espaço nessa joça....S. Farias

Anônimo disse...

Apareceu a margarida.

S. Maia

el Samu disse...

Oh gente. nada de exaltações!