terça-feira, agosto 30, 2011
quinta-feira, agosto 25, 2011
quarta-feira, agosto 24, 2011
poema e sequência de haicais
Naquela época
minha voz te acalmava
Eu cruzava a porta
você me abraçava
Nossas mentes e almas
Andavam coladas
E tudo que vinha
A gente enfrentava
Foram tempos
de Gullar nossos gatos
De Caetanos cifrados
De João
ouvirmos calados
De tudo fez-se nada
em nosso pós carnaval
Dito assim solto
pelo MC Marechal
quando foi que achamos
Que esse dia chegaria afinal?
Triste fim esse nosso
Dois perdidos
Em meio aos destroços
Luz
Entra e
Escancara
a ausência
Um norte
Se tiver sorte
Se esconde
No horizonte
vida entrecortada
Pela luz enquadrada
Congelo fumaça
Num haicai
Sem graça
Gravo minha dor
Pelo obturador
Divido com você
O que devia esconder
segunda-feira, agosto 22, 2011
Quanto vale ou é por quilo?
Agora que parece uma continuação do cronicamente inviável , isto sim, parece. Mais realmente vale a pena.
PIK
sexta-feira, agosto 19, 2011
Fé
Existe uma lenda – que muitos aqui devem conhecer – de que existe uma passagem que liga São Tomé das Letras à Machu Picchu. Meu tio acredita nisso piamente, a ponto de dizer que o acesso a caverna onde existe tal portal foi fechado pela prefeitura para evitar a viagem e não por segurança. Não sei nem mesmo se existe tal caverna, e se realmente foi fechada pela prefeitura.
Toda essa introdução é apenas para tentar especular sobre um mecanismo humano que a mim intriga muito: a fé. Algo que pode parecer absurdo para uns é totalmente palpável para outros. A fé é a arte de acreditar na falta de evidências, como se essa própria sentença já não fosse um contra-senso.
Sem querer fazer juízo de valor ou chacota com quem quer que seja, me permito duvidar da divindade terraqueamente representada – não por habitar o corpo, mas por procuração – pelo Papa. E para que não pese sobre minhas pobres letras a carga de “ateu fervoroso” busco embasamento na dúvida, em parte tentando livrar minha barra de “direitoso”, de Leonardo Boff e Olavo de Carvalho, amén.
quinta-feira, agosto 18, 2011
Ol’Blue Eyes is Back
quarta-feira, agosto 17, 2011
terça-feira, agosto 09, 2011
Círculos (III final)
Eles chamavam aquilo de sumo.
O resto da cerveja que ficava no fundo da garrafa; quente.
Quando o copo descolou da sua boca, o gosto implacável como o vento:
Tristeza, fúria, frustração, cocaína.
Havia na toalha da mesa círculos molhados feitos pelo fundo do copo.
Até ali, ele sabia, as coisas eram ligadas. Tudo fazia sentido.
- Sou o dasmi.
- hã?
- dasmi, porra! Midas ao contrário. Sou isso aí. Tudo que eu toco fode.
O amigo coça a barba.
A luz do bar era amarela. Em cima da mesa um lustre de sisal.
- como assim?
- nunca quis prisão. Mas sempre fui preso. Queria fazer o que quisesse, até poderia se tivesse grana, mas a grana não te deixa fazer o que quiser. Ou até deixa e eu não sei como.
- ãrrã. (Único som que podia emitir sem que o amigo percebesse que não havia entendido nada.)
- deixa eu te contar uma coisa: estava voltando da praia. Era feriado lá e aproveitei pra vir pra casa. Muito trânsito, com ajuda da chuva e da penumbra. Meu estômago embrulhado tingia de cores ainda piores a situação. Aquela fila enorme com suas lanternas acesas pareciam pontas de cigarro. Os escapamentos - bocas jogando fumaça em mim. Paranóia. De longe eu vi um cara tentando cruzar a pista. Era incrível como as pessoas continuariam paradas, como estavam, se deixassem espaço para ele passar. Foram muitos minutos assim. Quando chegou minha vez deixei espaço entre o carro da frente e eu.
Era hora de mais um gole, mas não tinha.
- e aí?
- O trânsito ocupava só um sentido. O cara passou por mim, olhou no meu olho e acenou com a cabeça, me cumprimentando. Foi nessa hora o meu toque. Ele se esqueceu de olhar o outro lado. Vinha uma moto. Barulho de lenha queimando; o corpo no chão. De braços abertos como se abraçasse o mundo.
sexta-feira, agosto 05, 2011
Portão (II)
Ele via o outro lado da rua cortado por barras azuis e ainda dois punhos cerrados e dois antebraços vestidos em sua malha vermelha com 2 listras brancas.
Seus amigos já tinham ido.
Ele também já teria partido se hoje fosse um dia normal.
Não era.
A escola já estava vazia.
O frio era ainda maior por causa da chuva.
Sobravam ele e o segurança falando ao rádio.
Ele não gostava do segurança.
Ele sempre olhava sua mãe se agachar para pegá-lo.
- Nas raras vezes em que ela o pegava na escola.
Ele amava -
Por cima do ombro da sua mãe ele percebia.
E sempre com aquele sorriso esquisito.
Parou de fitar o homem e sentou no chão.
Abriu a lancheira, ele sabia!, estava vazia.
Mas ele também não estava com fome.
Queria apenas matar o tempo.
Sua medida era o escurecer.
A noite ainda não tinha chegado.
Mas dia já não parecia.
Foi então que encostou o carro do avô.
Ao lado dele a avó.
Os dois falavam ao telefone.
Não se lembrava do avô na escola.
Da avó sim.
Sempre ela.
Ele entrava no carro e ela o bombardeava de perguntas.
Ele gostava.
E só fazia uma: _ e minha mãe?
A avó dizia que estava em casa, esperando.
Naquele dia estava tudo diferente.
O avô desceu do carro, deixou a porta aberta e apoiou os cotovelos no teto.
Continuava ao telefone.
A avó ainda estava sentada no carro, mas de lado, com os pés apoiados no chão e com a porta encostada em sua canela.
Parecia estar descansando.
Ele não se mexia.
Depois de mais algum tempo naquela escala própria de horas a avó o pegou.
Percebeu que ela não queria olhá-lo.
Ela apenas encostou o seu rosto no ombro dela.
Bem devagar o colocou no banco traseiro.
O avô entrou no carro e apoiou a testa no volante enquanto dava a partida.
Já não estava mais com aquele aparelho na orelha.
Saíram sem trocar palavra.
Ele encostou a cabeça no pedaço de vidro que sua altura permitia.
Sentia a vibração e deixava que ela distorcesse sua visão.
Dali pra frente teria de se acostumar com aquilo.
quarta-feira, agosto 03, 2011
terça-feira, agosto 02, 2011
Gosto amargo de filtro (I)
Era o último cigarro no trabalho.
Ela estava na rua enchendo os pulmões e aquele céu azul escuro, denso; avisava: chuva.
Fez questão de ir até o último trago.
Queimou até um pouco do filtro.
Não aguentava mais estar ali.
Naquele trabalho que não dizia nada sobre ela.
Passou o cigarro na parede e jogou no lixo.
Subiu.
Pegou sua bolsa, desligou o monitor e saiu correndo.
Sua capacidade de respirar naquele escritório era muito pequena.
Ganhou a rua.
Destravou o guidom, colocou o capacete e ligou o motor.
O amor dela por aquela moto era curioso.
Materialmente ela não valia quase nada.
Mas era a única coisa de que ela realmente dependia e que não lhe cobrava nada.
Era gasolina, faísca e punho.
Só.
Enquanto dirigia sem saber pra onde, o primeiro pingo.
Parar ou não?
Não.
A chuva apertou e os pingos também.
Os pingos eram maiores e numa quantidade incrível.
Já não era mais água, era agulha.
Naquela hora ela agradecera ao acaso por ter esquecido a blusa.
Na real, sentia-se bem com aquilo.
Algo na essência da dor era o que ela queria.
Acelerava cada vez mais.
Abriu a viseira.
Se deliciou com os pingos no rosto e nos olhos.
Foi a última coisa que viu.