sábado, setembro 29, 2007

Mito e Logos

Continuando o que nosso Frei mor, CEO, Chair-man, Local Administrator Network começou, gostaria de reafirmar a dualidade entre essas duas matrizes epistemológicas e mostrar que ainda são muito prementes.
Não é lícito fecharmos os olhos para o entrelaçamento entre razão e poder, pois segundo mesmo Foucault, o saber e a razão são máscaras do poder.
Digo isso por que ainda hoje vivemos a polaridade entre o afã da razão cartesiana de abarcar a realidade, e a produção mitológica que empresta sentido à essa realidade, e muitas vezes dando conta de problemas do cotidiano do homem que a razão instrumental não consegue nos trazer soluções minimamente satisfatórias.
Concordo que não foi somente na Grécia pré-socrática que se lançava mão de alegorias para se explicar a realidade e se buscava na natureza através dos filósofos da “Físis” os modelos de explicação de tal realidade.A ainda hoje a produção mitológica é pungente. Muito mais do que os pós socráticos, e dos que hoje endossam o ideal Ilustrado da nossa modernidade tardia queiram ou imaginam.
Hoje o pensamento mítico está ligado no mais das vezes ao que se convencionou chamar de sociedades tribais, mas sabemos que outros grupos que não se organizam dessa maneira também buscam nessa matriz de pensamento, que se derivou desse tipo d organização, uma base epistemológica que pelo menos tente abarcar parte de sua realidade, mas acima de tudo, empreste sentido a sua condição humana, criando o significado humano e toda cultura.
Essa base epistemológica é o chamado “Conhecimento Tradicional” ou “Popular”, e o grupo, no mais das vezes, são populações ribeirinhas, tribos indígenas, comunidades locais, minorias que em geral carregam consigo um valor territorial e étnico agregado.
E a nossa ciência desde quando foi criada, juntamente com o ideal Ilustrado da modernidade articulada no modelo de razão histórica, correu logo a tachar esse tipo de conhecimento empírico de vulgar, sem valor científico, não legítimo, sem propriedade e sem um método que lhe emprestasse um status de conhecimento válido.
O fato é que esse tipo de tensão assumiu um papel de litígio de contorno internacional, desde a Rio92, através do tratado de biodiversidade é salvaguardado o direito de propriedade intelectual de qualquer droga ou principio ativo que seja descoberto ou sintetizado através de um conhecimento tradicional, tendo que remunerá-lo através de royalties pagos ao mesmo. Tratado esse que os EUA também se recusam a assinar até hoje alegando o caráter vulgar e sem legitimidade de tal conhecimento.
Agora, convenhamos, o Foucault tinha ou não tinha “razão”?