Uma vez, Coronel me contou que uma boa pinga é feita da seguinte maneira: a primeira parte que sai do alambique é chamada de cabeça, a porção intermediária do destilado é o coração e a porção final é o rabo. A cabeça e o rabo são dispensados, por serem muito impuros, ou terem um a graduação alcoólica inadequada, não sei ao certo, e em uma garrafa de cachaça da boa encontramos o Coração da bicha. Pois a imagem que formou pra mim, ao imaginar o líquido precioso serpenteando pelos canos de cobre do alambique, com cabeça, coração e rabo, foi claro de uma cobra.
A serpente, cobra, víbora, é um dos animais mais simbólicos do imaginário humano, não é? Nos fascina, nos hipnotiza, nos aterroriza. Foi graças à serpente que fomos expulsos do paraíso, sendo condenados o homem a trabalhar e a mulher a ter sempre a serpente a morder-lhe o calcanhar. A cobra do Eden não encarna apenas o mal, a desobediência ao Pai. Ela é a Curiosidade, que incita o ser atrás do conhecimento, do fruto proibido da descoberta e da consciência. "Coma o fruto, e verás realmente o que és". Pau na cobra!
Animal Linha, quando em extenso, tem começo, meio e fim. Mas se o começo engole o fim? É o Infinito, imagem perfeita dos ciclos que se suscedem, do conhecimanto que nunca acaba, num processo em que quanto mais o sujeito conhece, mais tem consciência do quanto ainda não sabe.
Enrola-se na taça medicinal, e expele ali o veneno, fornece a cura ao próprio mal que causa. "A diferença entre o veneno e o remédio e a dose" pois "o que não te mata te deixa mais forte".
Fantástico ser, pena não ter asas...
(IMAGEM: "Laocoonte", grupo escultórico grego, encontrado no século XV e que influeeciou os renascentistas, Michelangelo entre eles)
8 comentários:
Esse negócio aí de coração eu ouvi falar! Eu não sou entendido nesse assunto não!
Enfim,
a cobra continua solta meu caro..........Não brincadeira não.
Tito.
La Nave Va, vamos ter que tomar uma cachaça com uma serpente dentro, mas quero saber quem vai ter coragem de dar o primeiro gole.....
A cobra cega rendeu mesmo, ainda bem!! Vamos escrevendo!!!!! E sair desse ostracismo.
OPA! tô dentro Maria!
como assim coronel, ouviu dizer? que papo é esse? pois então corre atrás das suas fontes que isso aí tá até na minha dissertação!
fonte por fonte, a do comuna já vale como referência bibliográfica. sf
Há umas três ou quatro semanas apreciei uma exposição na FAAP de São José onde o tema central era a linha e seu uso nas mais diversas vertentes da pintura. Confesso não tinha feito o link, mas o animal linha faltou a exposição. uma pena, mas o texto é muito bom. Valeu La Nave Va!
Engraçado, essa história da cabeça e do rabo sempre me pareceu coisa de peixe, nunca tinha imaginado uma serpente... Mas se é para justificar a bebedeira, então tá valendo, rsrs...
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