As ultimas efemérides meteorológicas me fizeram lembrar de Ulrich Beck, Sociólogo alemão que desenvolveu o conceito de Sociedade de Risco. Que está relacionada contraditoriamente a modernidade, isso porque segundo Beck, os riscos estão relacionados à arquétipos modernos que foram criados justamente para emancipar o homem, que são: o racionalismo, a técnica e a ciência. Estes estão a serviço do homem justamente para libertá-lo das limitações e adversidades do mundo natural.
Mas é bom que se diga que a técnica e ciência não são neutras, ambas têm uma destinação humana, mas estão inseridas num contexto político e histórico. Segundo Milton Santos a técnica é uma maneira de tornar o espaço empírico, a inferência do homem em seu maio natural se dá através da técnica, e esta, empresta uma dimensão temporal ao espaço propiciando a história, que assim como o espaço e a técnica, se organiza de maneira desigual e combinada. Aí o problema do risco dos eventos meteorológicos.
Os eventos meteorológicos castigaram regiões do país, começando por Santa Catarina e agora o estado de Minas Gerais. Bom pelo menos essa é a notícia que se veicula pela mídia, que também tenta relacionar esse tipo de evento com a questão da mudança climática global. Porém enquanto os meios de comunicação tentam culpar a chuva pelo grande problema instalado e os ricos relacionados á ele, não se falou em nenhum momento do que realmente está por traz disso tudo na análise de riscos. Que é a questão do parcelamento, uso e ocupação do solo. Esse riscos podem ser analisados com anos de antecedência, já prováveis riscos relativos a questão meteorológica, com alguns dias.
A especulação imobiliária, a negligência do poder público empurrou ou deixo instalar grandes assentamentos humanos em área de risco, ocupando várzeas, encostas e impermeabilizando o solo. Não precisa ser engenheiro ou especialista em hidrologia urbana pra ver que com esse tipo de política voltada a habitação e zoneamento urbano, a nossa sociedade atual estaria assumindo riscos cada vez mais desproporcionais a capacidade de gestão dos mesmos.
Crescimento da mancha urbana, impermeabilização e declividade acentuada (típico Vale do Itajaí, Congonhas do Campo, e Cataguases), fazem com que aumente consideravelmente a energia cinética da água da chuva, ou no jargão especialista, escoamento superficial pluvial. O problema que o que determina a energia cinética é a gravidade, e essa têm uma função exponencial, a sua aceleração é representada ao quadrado: 9,8m/s2 , de maneira que o risco que se apresenta tem um comportamento de progressão geométrica, em outras palavras, chegará cada vez mais água em menos tempo à uma macro drenagem ou calha principal. E o assentamento humano local verá um alagamento cada vez maior em sua extensão e em menos tempo.
Não adiantará nada todo investimento no programa espacial brasileiro (que já é pouco), desenvolvimento de satélites, super computadores para previsão de tempo e clima, todos para contornar a aleatoriedade e a diminuição da exposição ao risco de nossa sociedade, enquanto parte deste risco encontrar-se no progresso de cidades baseado na racionalidade técnica do capital e no desenvolvimento desigual e combinado do espaço urbano no Brasil.