quarta-feira, outubro 21, 2009

The Wall

Há vinte anos, logo pela manhã após o café, faltando poucos minutos para pegar o caminho da escola, eu corria até ao alpendre de minha casa e lá ficava até os últimos instantes, no mais das vezes me atrasando para aula. A culpa era do jornal que pontualmente era entregue as seis, e que eu o lia na sanha de absorver a força de cada golpe de marreta, martelos, paus, contra a um muro que não vi ser construído, mas que assisti sua queda. E que mesmo dentro do meu parco entendimento da época sabia que era um divisor de águas.
Parece que foi ontem que as duas Alemanhas se reencontraram, que o muro de Berlin ruiu e com ele todo espectro ideológico do socialismo real e da bipolaridade mundial. Como pré adolescente vi a tudo isso bestificado. Mas hoje, depois desses vinte anos, vejo que seus desdobramentos são ainda mais inauditos.
A queda do Muro simbolizou o triunfo do Capitalismo, fez com que alguns vaticinassem o fim da história (como Fukuyama) por considerar que as contradições já se haviam superadas com o triunfalismo da democracia liberal ocidental e a dialética estava sob os escombros do Muro, mas como já dizia Maiakovski: o mar da história é agitado!
De fato, a versão habilita para o liberalismo global arrebentou a cerca no peito. O neo-liberalismo de Reagan e Thatcher surgiu como panacéia para o atraso das economias do leste e também do sul, vide a America Latina neste período. A desregulamentação dos mercados de capitais, a política do Estado mínimo, as privatizações nos trouxeram crises econômicas subseqüentes na década de 90, a crise da Malásia, Rússia, Argentina, México.. A função auto reguladora do mercado, e a sua mão invisível, como bem teorizou Adam Smith não foram capazes de contornar tal situação.
Sem contar as forças intra estatais que também pressionavam os Estados, as contestações não viam só de fora, forças de dentro do próprio Estado também o faziam, como insurgência de minorias culturais e étnicas.
Após a queda do muro o desemprego na Alemanha aumentou, o Neonazismo surgiu. O centralismo militar do leste se esfacelou e as minorias éticas, sobre tudo nos Balcãs, deram um outro contorno geopolítico no leste europeu banhado de sangue. Os preceitos Ilustrados do Iluminismo que fundaram o Estado Moderno, a democracia e o próprio liberalismo já não serviam mais como referência já que tanto o Estado, a democracia e a economia estavam em crise.
A America Latina também entrou neste clico, reabilbitando um movimento adormecido desde o inicio do século passado, o zapatismo no México, que fez uma oposição feroz ao NAFTA, no celebre confronto em Chiapas no início da década de 90.
A crise do neoliberalismo econômico vem se estendendo desde a queda do Muro de Berlin até os dias de hoje, com crises cada vez mais agudas. Há vinte anos a queda do muro foi em Berlin, hoje o muro que ruiu foi outro, em outro lugar, mas com a mesma magnitude, o muro foi Wall Street, que veio trazer outro contorno geopolítico colocando em cena países como Brasil, India e China. Desde há vinte anos, vejo os desdobramentos da queda do muro com o mesmo espanto e perplexidade dos meus quatorze anos de idade. Porém, hoje, muito mais pela frieza desta tela do que pelo minutos passados no alpendre de casa.


13 comentários:

Anônimo disse...

Você acha mesmo que esses eventos são comparáveis? Digo, o fim de um regime totalitário, terrorista, castrador, cerceador, messiânico, etc... às crises vividas pelo capitalismo?

Londe de ser prefeito o capitalismo tem sim seus defeitos, porém ele se aperfeiçoa e se regenera de maneira mais autônoma e ágil pelo simples fato de não ter dono.

Adam Smith entedeu de forma simples, elegante e lógica - como deve ser toda teoria - a alma da economia dentro de um corpo democrático.

Acredito no Estado mínimo, administrador dos serviços básicos, legislador das melhorias e fiscalizador dos desvios.

Não acredito em paladinos do Bem, em porta-estandartes do futuro e conhecedores da verdade sublime. Acredito no sagrado direito ao individualismo, na consciência singular, no limite.

Anônimo disse...

assim como defendeu o caríssimo prêmio Nobel Stiglitz, esse processo totalitário do sistema de mercado e de mundialização somente poderia causar diferenças abissais entre os "gamblers" do mercado e os que estão assistindo-os pela vitrine virtual desta rede ou em alguma latrina social criada pela diferenças, sem saber o que se passa. Creio que prova disso sejam os movimentos de Pitsburgh em direção a um novo mercado internacional, que salvem as combalidas economias desenvolvidas e os fiéis ao Sir. A. Smith.
Gostei muito de seu texto e é uma pena o farseta aí de cima não saber assinar nenhum nome qualquer como fazia nosso mainardi. Saudações Piraquarenses!
S. Farias

Alê Marques disse...

Que bom tê-lo como interlocutor, caro anônimo. Gostei de seu comentário!
Concordo pelanmente com você que os regimes socialistas do leste foram execráveis em sua forma mais nefasta de totalitarismo, controle, perseguição, genocídios e etc. Inclusive já fui até criticado neste espaço certa vez por pensar assim.
Mas se você bem me entendeu, não quis dizer que as crises do capilatlismo nas ultimas décadas se deu pela falência do socilismo real, as crises fazem parte da própria lógica capitalista e não socialista (seja ele real, cientifico ou utópico). Em 1929 não havia o muro de berlin e o liberalismo foi mais uma vez a banca rota.
Depois da fisiocracia e do mercantilismo a escola clássica da economia a qual Adam Smith é gande expoente representa sim um salto qualitativo no pensamento econômico.
Porém a crìtica que precisamos fazer a essa linha de pensamento econômico, é a sua excessiva ênfase positivista ( natural da época) que tenta atrelar aos fenômenos econômicos leis naturais que os orientariam a uma auto regulação. O que não acontece de fato, haja vista a deformação das leis de oferta e procura que é a base da mão invisível de Smith, na forma de trust, carteis, monopolios oligopolios etc.
Talvez devamos fazer uma nova roupagem do Keynisianismo. Um novo Welfare State para alavancar o próprio mercado morimbundo,que é o que tem feito os EUA hoje. Afinal, quem socorre o liberalismo nas crises é o Keynisianismo, o estado de bem estra social. Longe de ser o socialismo!
O Estado mínimo nos ultimos tempos tem deixado cada vez mais de lado serviços básicos, e fiscalizado cada vez menos. Prova disso é a crise dos sub primes, que fez com que os governo dos EUA aumentasse a fiscalização sobre os capitais de port folio, fato que tivesse feito antes pelo menos teria amenizado um pouco a crise. Em contra partida, Obama tem aumentado seus gastos na área da saúde.
Também sou um defensor ferrenho dos direitos individuiais, mas não posso me furtar a constatação da crise dos arquetipos da modernidade, tais como a propria cidaddania, a democracia, o liberalismo econômico e o Estado.
Não existe nenhuma solução única, messiãnica ou totalizantes, até por que com a pós-modernidade as grandes narrtivas históricas assim como conceito de verdade pode ser um engôdo.
O que fiz foi uma constatação.

Anônimo disse...

Phd S. Farias, cá de minha latrina social, conquistada apenas pelo meu próprio esforço, mando-lhe também saudações.

Gostaria de te contar um aberração criada pelo Capitalismo bicho-papão: duas crianças, nascidas em famílias pobres, moradores de favelas, decidem estudar em escolas públicas e buscar um futuro que contrarie o histórico familiar. Mudam-se para uma cidade mais avançada economicamente e começam a trabalhar. Ele empacotador, ela vendedora. Tanto trabalham que conquistam. Sobem de cargo. Hoje são consideradas pessoas bem-sucedidas.

Agora me diga, têm essas pessoas o direito de acreditar num sistema que propiciou essa mudança àqueles que buscaram? Ou devem ser eternamente rancorosos com o sistema que posicionou suas familías nessa latrina social mais funda? Estivessem eles num país comunista teriam liberdade suficiente para buscar serem tratados desigualmente por serem desiguais?

Podem essas pessoas acreditar que um sistema, um organismo conceitual, porém em prática, passar por crises assim como nós? E que das crises podem sair vitórias ou derrotas de acordo como foram encaradas? Podem ser otimistas ou isso é apenas reservado aos paladinos do Bem?

Não tenho nome... represento um idéia.

Anônimo disse...

Caro Alê, a mim me parece claro que a teoria de Adam smith está correta e sua aplicação – ou auto-regulação – operou em 1929. Isso não quer dizer que o processo tem de ocorrer sem traumas. No crash, a oferta americana estava fora da realidade da demanda, tendo em vista a retomada da produção na Europa e a queda do consumo consequente desse evento.
A visão de regeneração e aperfeiçoamento que citei anteriormente em meu comentário também me parece correta. Ou não estamos hoje melhor do que em 1929? Sem esquecer, é claro, da crise por falta de regulamentação do ano passado. Assim como dantes acredito na melhora posterior deste cenário também. E novos apontadores de situações de riscos devem vir.
Agora discordo de você substancialmente neste ponto: “O Estado mínimo nos ultimos tempos tem deixado cada vez mais de lado serviços básicos, e fiscalizado cada vez menos.” Se é assim, então que cobremos o posicionamento correto do Estado e não a abolição de tais ferramentas.
Sobre a crise de valores que você coloca “...os arquetipos da modernidade, tais como a propria cidaddania, a democracia, o liberalismo econômico e o Estado.” Os vejo como resultado de um método ideológico que solapa as intuições e joga no descrédito pilares tão caros à democracia e a participação social.

Anônimo disse...

"Cubana viajou seis horas dentro de uma caixa de Miami a Havana.
Entrou na lei do pé seco"


Tudo depende de MIM! Chaplin

Anônimo disse...

O pano de fundo mais uma vez apresenta uma rançosa mentalidade de formação escolástica francesa. Isto é, um sutil ideal em detrimento do sistema vigente, que recorda um mito de que a frança é a pátria coletiva dos sonhos. Mas não é. Ainda existem os franceses.
“Entre o real e o ideal sempre que alguém disser que o socialismo real não é o verdadeiro, denuncie a falsidade também do capitalismo real; no verdadeiro, todo mundo vai ser rico e feliz. Vamos ver quem ganha”.
(Reinaldo Azevedo)

Anônimo disse...

Ao carajo!!! hahahaha
Phd (por hora disponível) frequente o escritório que vai saber da próxima vez.
S.Farias...hahahahaha

Anônimo disse...

Gostaria de permanecer quieto, mas infelizmente não dá. O mundo é um contínuo devir, nem o socialismo seria ou muito menos poderá ser a salvação.Segundo, Marx em sua teoria não imaginou socialismo para nenhum país que ocorreu o chamado socialismo. O capitalismo se reergue em novas formas, entretanto, é possível que num futuro de suas reconstruções teremos outro nome, seja lá que merda de nome que for.
Fato é que o estado de bem estar social vivido na europa fora muito agradável, principalmente a custa da exploração alheia de países mais pobres.Mais foi um período muito bom para quem lá viveu,mesmo que só existiu para combater as possibilidades de vingar ali mais uma ala do muro pseudo socialista.
Uma vez que tal muro caiu , o sistema do estado mínimo entrou babando em todo lugar , e o Sr Marques tem razão que o que vivemos hoje é o fato da merda do estados não controlar bosta nenhuma.
Outra coisa que para mim ficou também claro que o autor do texto em momento algum teve a intenção em defender o socialismo .Tão somente foi o esclarecimento de um fato dentro de um curto período histórico. E que dentro deste período histórico o estado mínimo não responde.
Prefiro entender que seja o nome que for dado, o que se espera agora é que seja repensado o sistema como está. Eu particularmente , não vislumbro nada, e gosto das paixões dos jovens de bandeiras a favor do povo , entretanto, tenho medo quando eles envelhecem , pois falaram demais e farão muito pouco.
Tirando meia dúzia de honestos gatos pingados , o resto se não vira um Stalin, torna-se um Fidel, um Chaves, um Lula ( apesar que votarei no candidato dele ), pois uma coisa ruim , tem grandes possibilidades de piorar.
Novamente, ao meu ver foi a narrativa de um fato, tão somente.
Piqui

Alê Marques disse...

Ufa! é isso aí Pik!!

Marcio disse...

quem diria que décadas depois da queda do muro de Berlim, alguém ainda precisaria defender a Liberdade de oportunidades do capitalismo.

Anônimo disse...

Desculpe, Phd S. Farias, por não conhecer seu vocabulário combinado no escritório.

Anônimo

Anônimo disse...

Caraca..e eu perdi td isso..

Frei