quinta-feira, dezembro 10, 2009

Por esses dias

Hoje no horário político curto(durante os intervalos) vi um canditado evangélico delineando a vida. Para ele, a vida começa com a junção do espermatozoide com o óvulo.
O fim é quando o sujeito perde a consciência, por exemplo na morte cerebral, deixando de existir.
Primeiro, por que um canditado delimita vida? E na televisão? Fiquei uns minutos sentada na cama pensando sobre isso.
Segundo: delimitação pobre, uma vez que, no embrião que aconchega-se no útero não há consciência também, já que não há formação nem ainda da cavidade onde futuramente irá crescer a notocorda, ou Sistema Nervoso, dividido em Central e Periférico. Ou seja, do ponto de vista exposto por ele, o canditado, se o fim é o fim da consciência, o começo então deveria ser o começo da consciência. Não?

Com esse comercial, o texto do meu querido amigo Prata e já nesse final de ano, lembrei-me de meu melhor amigo que faleceu há quase um ano, completará um ano no dia ... bom, esse é o problema.
Dia 28 de Dezembro pela manhã, em Ubatuba, ele caiu sozinho na cozinha. Escutou-se um barulho, quando chegaram na cozinha lá estava ele convulsionando no chão. Correram para São José. Diagnóstico: morte cerebral, só confirmada num exame feito dia 29 de Dezembro. Durante todo esse dia, até o dia seguinte, os órgãos que poderiam ser removidos foram encaminhados para transplantes. Infelizmente o coração não pode ser usada devido aos procedimentos médicos.
Dia 30 velei meu amigo. Disse tchau para ele ali deitado no caixão. Ele estava sorrindo.
Dia 31 vi fecharem o caixão.
Mas para mim, biologa cética, ainda é difícil aceitar a morte dele. Os olhos dele ainda veem, o fígado ainda funciona. Sem o funcionamento dele, morremos em três dias. Como então ele morreu?
Escrevo esse texto para lembrar a mim mesma que os limites existem para quem os cria. O fim da pessoa que eu amei muito e amo, não por parentesco, mas por convivência, por todas as coisas boas e ruins que passamos juntos, me deixou carente de amigo, sozinha. Tenho muitos amigos que irão ler esse texto e me chamar de mal agradecida, mas o lugar do Marcelo sempre será dele e nesse momento que escrevo esse texto choro de saudade da risada dele, que ainda consigo escutar, então será que ele se foi mesmo? O lugar dele está vazio.
Já pensei em ligar para ele. Já o coloquei em listas de festas.
Já imaginei tudo que ele não foi e poderia ser e penso nos limites, dele e meus.
O vazio fica e não importa quão longe ele esteja, eu sempre vou ama-lo e vou morrer de saudade de quando ele falava bravo comigo, no fundo ele meu único amigo que podia brigar comigo de verdade. Ele era o único que conseguia impor limites em mim.




(Segue a letra de uma das músicas prediletas dele:
Yesterday I got so old
I felt like I could die
Yesterday I got so old
It made me want to cry
Go on just walk away
Go on
Your choice is made
Go on and disappear
Go on away from here

And I know I was wrong
When I said It was true
That it couldn't be me and be her
Inbetween without you
Without you

Yesterday I got so scared
I shivered like a child
Yesterday away from you
It froze me deep inside
Come back don't walk away
Come back today
Come back
Why can't you see?
Come back to me)

3 comentários:

el Samu disse...

É hoje (10.12) fez três anos que meu pai se foi e fiz algo que ele gostaria de fazer...

um dia desses eu conto, ou não também...

força aí menina!

Anônimo disse...

Ultimamente tenho levado socos da vida. Não sou dono de nada -parafraseando os Racionais - nem do meu próprio universo em crise e de meu coração partido.

Assisti nesses dias um amigo na linha tênue, visitado pela indesejada das gentes*. Um susto.

Vi um apoixonado pela vida ser alvejado por projéteis e pela imprensa, como se fosse o próprio imperador do caos, o regente da causa e efeito.

Sou o pó do acaso jogado aos leões. Somos o meio. Às vezes, sem sentido e vazio.

S. Maia

*poema Consoada de Manuel Bandeira
http://leaoramos.blogspot.com/2007/11/quando-indesejada-das-gentes-chegar.html

S. Farias disse...

como já falei o que acho para você, pessoalmente, creio que isso aí é muito mais do que físico e também penso que é egoísmo de sua parte querê-lo para sempre, a lembrança e o que ele significou para você foi isso e pronte, admirável e importante para sua formação. É muito mais complexo, mas temo a morte e penso nela todos os dias, somente assim fica mais fácil entender o que devemos fazer agora se ela nos encontrar. Força aí e seguimos em frente