Estávamos eu e meu grande amigo Zamah (ou Zamá) a rondar a cidade, numa noite fresca e devidamente enluarada de sábado; nosso desejo era o de parar em algum bar, pedir uma cerveja bem gelada e, - como rapazes solteiros, bonitos e gentes de bem que somos -, observar a beleza de nosso mulherio joseense, e bater papo, jogar conversa fora.
Estacionamos quase em frente ao Bar Pimenta e depois de caminhar por toda a extensão da rua, que inclusive abriga outros estabelecimentos para bebericagem, vimos que a paisagem local até que era bela, mas repleta de ninfas com seus namoradinhos ou coleguinhas espinhudos e surfistinhas precoces de gel no cabelo, munidos de carrões do papai ou da mamãe com “putz- putz” ou reggae ligados no dez.
A praia ali definitivamente não era a nossa! A idade pesou. Nos sentimos meio “Gaspar”; aquele personagem surfista quarentão que Nuno Leal Maia interpretou na novela global Top Model, de 1990, com cenas nostálgicas relembrando o passado ao som de “Stairway to heaven” do Led Zeppelin.
Então, pegamos o carro e demos seqüência ao tour passando em frente outros bares como Original, O Funil, O Botequim até finalmente ir parar no Rapsódia´s, o qual estava tão perto quando saímos de casa, em Santana, zona norte.
Lá o ar estava bom. E a casa cheia. Cheia de caboclas na faixa dos trinta e quarenta; algumas lindas, outras bonitas e outras já na série C do campeonato, beirando o ostracismo, prestes a parar de competir.
Loiras, morenas e branquinhas; magras, formosas e gostosas mesmo, fizeram a gente se sentir em casa enchendo o rosto de sorrisos: agora sim, estava tudo nos conformes.
Entre uma e outra cerveja falávamos de tudo um pouco, ao mesmo tempo em que comentávamos a beleza feminina presente, bem colorida e variada. Coisa tão boa é observar as mulheres.
Ficamos do lado de fora do bar, filmando as fêmeas feito lobos do alto da colina em busca de ovelhinhas suculentas, enviando pelo ar doses cavalares de testosterona, de sugestão, de disposição em ver alguma paradinha (tamo no jogo!, como diz o sábio e agora magro Charles de Lima, vulgo Pelote).
Estava tudo muito bom, muito bem... E lá pelas tantas horas da madrugada fresca, eis que surge então, da parte baixa da Rui Barbosa, ali mais ou menos à altura do Cine Santana, cambaleantemente ébria, falando com o nada, tateando o ar, desviando do poste, ajeitando as alcinhas marotas de sua blusinha justa, delineando uma barriguinha de uns 20 anos de cervejinhas acumuladas: uma mulher mirando a reta tentando acender um cigarro parecendo enxergar dois, quase queimando a mão, tropeçando em si mesma... Na capa do batman, como diz Eduardo Macumba.
Vi tudo isso de soslaio,- bem pelo cantinho dos olhos-, e ainda tive tempo para pedir a deus que ela não se enroscasse em nossa mesa, mas ela foi se aproximando, chegando perto, mais perto, bem perto, pertinho agora, até que: - Aí bonitão, dá licença que eu vou pedir uma gelada para a gente, pode? Demorei a responder, virei para o meu amigo e ele disse baixinho, deixa né, fazer o que...
Fazer o que! Aquela senhora chapada vinha de um forró dali de Santana mesmo, daqueles tipo “rancho da goiabada”, junto a faraós, índios, piratas, pais-de-santos, balconistas, engraxates e frentistas, em busca de ser amada; mas a noite parecia ter sido em vão.
Disse que morava próximo à COOP, e que iria tomar uma e depois partiria a pé. E eu completei, “é pertinho, tá uma noite gostosa’. Mas ela não gostou muito não, e me repreendeu alegando uma falta de cavalheirismo absurda, “ora moço, pensei que iria me oferecer uma carona, você não tem carro não? Esses homens de hoje... A coroa suspirou com um bafo de cachaça barata e de cigarro “estoura peito”.
E ali ficou embaçando nossa ilustre “convidada”. Pediu meu telefone, e lógico que eu não dei. Disse para ela que a vida é a arte do encontro, e ela indagou: de quem? do encontro? Ah tá...?!!
Até que depois de algum tempo infinito, o celular dela toca e ela passa algumas coordenadas para um rapaz que chegou dez minutos depois, de moto. Era aparentemente bem mais jovem que ela o aventureiro. Diria sobre o rapaz, nosso Coronel: destemido, peito de remador, um legítimo brabo.
E para fechar com chave de ouro, aquela dama da noite quase caiu da garupa ao subir na moto, quase precisou de ajuda; mesmo assim não perdeu a pose. E com umas das sandálias que calçava agora arrebentada pelo pequeno enrosco, se despediu da gente toda sorridente, sumindo pela madrugada, dando continuidade à sua saga particular. A saga de Maria Gorete, 47 anos, desquitada, desempregada e facílima. “Vai com deus!” Disse o meu amigo, “vai com deus, coitada”.
Nilson Ares